A fé e a psicologia

A Psicologia – diga-se, os psicólogos – sofre de algumas questões que são dose. Certas sutilezas evocam todo o estilo de uma formação, e independente do “campo” que se escolha.

É sempre importante lembrar: se você, psi, vê um pesquisador lendo com alguma seriedade um texto sobre teoria da personalidade, não quer dizer necessariamente que ele está “acreditando” na psicologia da personalidade. Se lê Pavlov, não quer dizer que está “acreditando” em Pavlov. Se lê Watson, Skinner, quem quer que seja, isso não é um ato de fé. E também não é um ato de ecletismo.

Um exemplo clássico é o de Pavlov. Hoje eu lia um texto, de livro de referência, de um pesquisador analisando como Skinner enxerga Pavlov. Lá pelas tantas, o pesquisador solta um “ao menos, nisso, Pavlov ESTAVA CERTO”. O texto, que deveria ser sobre Skinner e Pavlov, de repente transforma-se num texto sobre o próprio comentador, o DITOCUJO. É uma retórica digna de memes estilo “Instituto Tireidoku” ou “vozes da minha cabeça”.

Dia desses me surpreendi com um caba que riu porque comentei sobre um pesquisador que pesquisava o “Wittgenstein intermediário”. O tom era de deboche mesmo, pois afinal, “que bizarrice é essa? Quem estudaria um “Wittgenstein intermediário”?” Esse riso é a perfeita redução da teoria ao estudante dela – ou, em outras palavras, uma redonda psicologização de qualquer pensamento.

Quem sustenta uma posição dessas deixa sempre passar, sorrateiramente, um critério: o seu próprio. Ele cobre a perfeita distância entre o fogo e a frigideira, pois se acusa uma certa tentativa de leitura séria como um simples ato de fé, é porque tem alguma fezinha escondida.

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