Você precisa de um serviço público e o servidor está ocupado. Mas quando você bem percebe, aquela tarefa na qual ele estava compenetrado para não te atender era… jogar paciência no computador.
Quem nunca? E não à toa, difundiu-se tanto o dito de que “tem que privatizar”.
Mas como o brasileiro é sempre um caso a ser estudado, não seria inútil perguntar o que alguém quer dizer quando diz que quer “privatizar”. Pois nem é preciso ter um olhar aguçado – muito pelo contrário – para notar que o serviço privado é igual, quando não pior, que o público. Pois quem jamais ficou enredado num serviço qualquer por aí? As empresas de telemarketing que o digam.
Ou ainda os entregadores de aplicativo. Ou os motoristas. Ou qualquer outro emprego liberal por aí.
Falamos mal do serviço público como se o serviço privado representasse alguma distinção real.
Os restaurantes, por exemplo. Talher suja, comida suja, pêlo na comida, mal atendimento, produto ou atendimento incompatível com o preço… quem nunca?
Mas há quem diga que o mercado se auto-regula. E de algum modo isso é verdade. Mas se é assim, é preciso explicar então como há estados inteiros – como o Rio de Janeiro – com monopólios de serviços horríveis, como os de ônibus de transporte (quem nunca?). Ou ainda, seria preciso explicar a respeito dos tantos cartéis que presenciamos por aí, por exemplo os dos postos de combustível.
E há tantos empregos nos quais o que importa é ser o filho do dono. Ou ter algum pistolão. Ou ainda, você chega para perguntar o preço – pois o estabelecimento não discrimina preços – e alguém muito preguiçoso responde “para você custa tanto“.
E o que dizer do antigo voto de cabresto? Voltou à mil com o assédio eleitoral: você deve votar em tal cara, senão eu te demito.
Mas há esse outro fenômeno: o brasileiro finge esquecer como é o serviço privado – ou como ele mesmo transforma seu serviço numa grande privada – para dizer que tem que privatizar tudo.