O brasileiro do futuro

As recentes análises (1, 2) de que o brasileiro está se tornando consumidor antes de cidadão (e reduzindo a noção de cidadania à de consumidor, embora ainda há muito para o brasileiro ser inclusive consumidor propriamente dito) curiosamente “coincidem” com o seguinte:

– Vivemos a greve mais prolongada da história das universidades federais.

– As bolsas de pós-graduação valem hoje menos da metade do que valiam 18 anos atrás

– O grande “gargalo” do desenvolvimento técnico brasileiro está na falta de alunos com conhecimento mínimo para cursar engenharia e exatas.

Desenhando: o movimento de acesso ao consumo do brasileiro não acompanha radicalmente nem o acesso a bens básicos das ditas democracias (educação, saúde, transporte etc. públicos de qualidade), nem a dita “qualificação” do brasileiro para que seu trabalho futuramente corresponda aos níveis de consumo desejados por ele mesmo.

Consumo exige trabalho e trabalho exige “qualificação”. “Qualificação” exige estudo, e estudo exige educação. Mas o ensino médio anda tão prejudicado que a esmagadora maioria dos alunos (mais de 90%, diz o estudo acima) tem dificuldades em fazer simples operações de câmbio (converter dólar em euro, por exemplo). Estamos criando um país de engenheiros ou apertadores de parafuso?

No outro extremo, a formação de professores está profundamente prejudicada. Se alguém pretende se dedicar à pesquisa, uma bolsa vale hoje 55% a menos do que valia 18 anos atrás. E o governo Dilma sinalizou: não há negociação com professores, apenas propostas unilaterais que não repoem as perdas inflacionárias.

Enfim, cabe juntar as peças. Não é dificil não.

Senão vejamos, olhando só algumas semanas mais para trás:

– A má qualidade do ensino médio fez o MEC pensar não numa melhoria geral de condições estruturais e educacionais, mas numa reforma curricular, eliminando as matérias específicas (biologia, história etc.) para agrupar tudo em núcleos gerais.

– “Novidades” educacionais, como o “Diário de Classe” criado por uma aluna de 13 anos, colocam a nociva questão de reduzir o foco dos problemas da educação à figura do professor.

– Ideólogos com bastante influência se pronunciam contra melhorias gerais na educação, ficando tudo a cargo… do papel individual do professor.

– Enquanto Dilma dizia que os professores públicos não têm nada a reclamar porque possuem “estabilidade”, o blog Acerto de Contas publicava: professores recebem menos hoje do que no governo FHC.

– As universidades estão sucateadas, e até a Veja (a Veja!) já disse isso, diante da surpreendente omissão do governo

As peças são diárias. Junte o quebra cabeça e…

Um comentário em “O brasileiro do futuro

  1. Quem mesmo ria de todos os mestres que nunca riram de si? Zarathustra de Nietzsche? Parece que sim. O circuito universitário há longo, longuíssimo tempo está esgotado. Não é universal e só pensa em preparar o homem para o mercado da praça pública. Criar escravos de classes menos ou mais luxuosas. É manco, desastroso, infeliz. Cria sociedade tola e hipócrita e cruel. A insaciável sede de Nada que contrabalança este iluminismo imoralista, que não satisfaz à Necessidade com criação e também jamais com cúmulo do acúmulo, sair daqui, isto não se aprende em Universidades. O sistema circundante que é político e econômico, dele não se cogita. E é nele que se vai encontrar aquilo que salva. Careço de uma liberdade democrática real, nunca formalidade delegada a bandos partidários. Não reformar, mas condicionar a sanha do Estado. O grande Leviatã está soçobrado. Finalmente.

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