Privatização dos Correios

Eis como, em 2008, anunciavam os Correios como empresa e gestão:

A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) alcançou um feito inédito: pela primeira vez apareceu em uma lista “Top 50” criada pelo Reputation Institute, uma organização sediada em Nova York, e publicada pela revista norte-americana Forbes (leia texto em inglês). A empresa brasileira superou inclusive a americana FedEx, que ocupa a 52ª posição. Além disso, os Correios conseguiram a primeira colocação no quesito respeitabilidade entre as empresas de correio do mundo, o segundo lugar no ramo de logística e, de todas as empresas brasileiras citadas na pesquisa, foi considerada a quinta mais confiável. As quatro brasileiras que aparecem antes dos Correios são: Petrobras (20ª posição), Gerdau (24ª), Usiminas (40ª) e Vale (43ª).

Temos uma capacidade imensa de esquecer as coisas no Brasil. Não faz muito tempo, os Correios chegaram a ser a empresa eficiente que vinha na cabeça dos brasileiros quando perguntados, e políticos como Cristovam Buarque chegaram a dizer que as escolas deveriam imitar os modelos do Banco do Brasil e dos Correios, que apresentavam condições de base para o serviço prestado.

Claro, eu também ouvia sobre como os Correios estavam inflando desnecessariamente o quadro administrativo e começaram a fazer parte de esquemas de corrupção. Ouvia histórias de como o setor de planejamento multiplicava cargos inúteis ou, principalmente, cabides políticos, enquanto o setor operacional continuava dando modelo. Também vi que escândalos como o do Mensalão começaram pela corrupção nos Correios, capitaneada por figuras como Roberto Jefferson.

As razões alardeadas da privatização são:

Nas justificativas que constam de estudo para privatizar os Correios, o Ministério da Economia aponta corrupção, interferências políticas na gestão da empresa, ineficiência, greves constantes e perda de mercado para empresas privadas na entrega de mercadorias vendidas pela internet, o e-commerce

Mas a pergunta que nunca se faz, aquilo que o brasileiro nunca põe em questão, é: como pode ser possível que numa década, da noite para o dia, uma empresa lembrada como exemplar possa se transformar na imagem da ineficiência e da corrupção?

Pois privatizam os Correios agora dizendo que é ineficiente, pesado, gera custos. Não muito tempo atrás era o contrário, inclusive como empresa estratégica.

Igualmente, privatizam os Correios sob a acusação de ter sido penduricalho de cargos de confiança políticos. Então com a privatização a prática foi extinta? Será um estado de coisas inerente aos Correios? O Brasil ficou, com a privatização, menos passível de escolher correligionários e parentes? E a privatização não terá vícios e negociatas obscuras, como tantos outros exemplos o mostram?

Em terceiro lugar, privatizam os Correios acusando-os de monopólio. Dizem: o monopólio deve ser quebrado para gerar competição, bons serviços e preço baixo. Mas quando as pessoas dizem isso, esquecem dos serviços monopolizados prestados por aqui, começando por quando andam de ônibus (há estados inteiros monopolizados). Competição? Lembremos dos cartéis dos postos de gasolina…

Há ainda uma outra questão: qual será o modelo empregado, e se ele será efetivo. Dizer que os Correios são estratégicos significa dizer que o serviço é universal e igualitário. O ribeirinho do igarapé amazônico e o playboy da zona sul do Rio tem os mesmos direitos e acesso ao mesmo leque de preços.

Pode-se dizer que os Correios serão privatizados por uma série de coisas. Só não dá para falar que privatização é necessária por gigantismo estatal,  ausência de lucro, carência de gestão ou ausência de caráter estratégico, especialmente em empresas que já tiveram seu momento de boa gestão.

Não há qualquer sentido, senão a má gestão ou a má vontade política, que faça com que uma empresa pública perca seu caráter público e se transforme em cabide de interesses privados (continuando ela pública ou não). Mas vejo que vai demorar para o brasileiro aprender a lição.